Liderada pela futura primeira-dama Rosângela Silva, a socióloga Janja, a equipe responsável pela preparação da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva já está pensando em como será a transmissão da faixa presidencial. A ideia é que a faixa seja entregue a Lula de maneira simbólica “pelo povo” – ou seja, por um representante do povo brasileiro.
Segundo o Valor apurou junto a integrantes da equipe de transição de governo, a possibilidade mais forte hoje é que a entrega da faixa a Lula seja feita na rampa do Palácio do Planalto por uma mulher indígena ou negra. O martelo ainda não está batido, e a palavra final deverá ser de Janja, que retorna com Lula no próximo fim de semana de uma viagem ao Egito e a Portugal.
Há pedidos na militância petista para que a entrega seja feita pela ex-presidente Dilma Rousseff, que não concluiu seu segundo mandato após ser afastada por um processo de impeachment, em 2016. Essa ideia tem aparecido nos debates internos. Mas está praticamente descartada, por conta do mal-estar que poderia gerar na coalizão que Lula pretende montar em seu governo. Ela inclui o MDB, partido de Michel Temer, vice de Dilma e que assumiu o Poder em seu lugar, além de vários parlamentares que votaram pelo afastamento dela.
A necessidade de improvisar a transmissão de faixa a Lula surgiu diante da mais que provável recusa do presidente Jair Bolsonaro de cumprir o ritual. Aliados do mandatário afirmam que ele deve viajar ao exterior para não ter que participar da posse do rival. A hipótese de Bolsonaro estar em Brasília em 1º de janeiro é tida tanto no governo bolsonarista quanto no entorno do petista como nula.
Senador eleito pelo Republicanos gaúcho, o vice-presidente Hamilton Mourão já afirmou abertamente que não substituirá Bolsonaro na empreitada. Em entrevista ao Valor, publicada nessa quarta-feira (16), Mourão disse que cabe a um presidente eleito passar o adereço ao novo mandatário, o que não é o seu caso.
“Passagem de faixa é do presidente que sai para o presidente que entra. Se o presidente, vamos dizer assim, ele não vai querer passar a faixa, não adianta ele dizer que eu vou passar. Eu não sou o presidente. Eu não posso botar aquela faixa, tirar e entregar. Então, se é para dobrar, bonitinho, e entregar para o Lula, pô, qualquer um pode ir ali e entregar”, disse Mourão. “Não é o caso.”
Ele opinou ainda que Bolsonaro deveria estar na rampa do Planalto diante de Lula no dia da posse como um “gesto de altivez e desafio”.
“Acho que seria um grande gesto dele. Eu sou um grande fã do Winston Churchill. Tem um aforismo dele que diz que na guerra, você tem de ter determinação, na vitória tem que ser magnânimo e na derrota, você tem que ser altivo e desafiador. Acho que seria um gesto de altivez e de desafio ‘toma aí, te vira agora aí, meu irmão. Te vejo em 2026’”, afirmou.
Valor Econômico